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Estado de São Paulo prevê vacinar primeiro profissional de saúde e maior de 60 anos
Plano prevê 18 milhões de doses de vacinas e o uso de 54 mil profissionais de saúde
Notícias 08 de Dezembro, 2020
Estado de São Paulo prevê vacinar primeiro profissional de saúde e maior de 60 anos

O plano de vacinação contra a Covid-19 de São Paulo, que será anunciado nesta semaman pelo governador João Doria (PSDB), prevê o início da imunização no dia 25 de janeiro.

Serão vacinados primeiro profissionais de saúde, pessoas com mais de 60 anos e grupos vulneráveis como indígenas e quilombolas, totalizando 9 milhões de pessoas.

Há vários focos no plano, que tem como base a óbvia expectativa de que a Coronavac, a vacina chinesa que será feita localmente no Instituto Butantan, funcione e esteja aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

O estudo acerca da eficácia da Coronavac será divulgado até semana que vem e, se tudo correr como espera o governo, seu registro será pedido imediatamente na Anvisa. Segundo Doria, será feito um pedido de aprovação emergencial.

A questão que fica é: se a vacina tiver uma cobertura menor do que a esperada a partir de dados preliminares promissores, acima de 90% na expectativa do governo, talvez o escalonamento apresentado de vacinação tenha de sofrer alterações. O mesmo vale para o caso de ela ser menos efetiva em idosos, por exemplo.

A vacinação será escalonada para as duas aplicações necessárias da Coronavac, ambas gratuitas. O grupo profissionais de saúde/indígenas/quilombolas receberá sua primeira dose em 25 de janeiro e a segunda, em 15 de fevereiro.

Quem tem 75 anos ou mais, 8 de fevereiro e 1º de março. De 70 a 74 anos, 15 de fevereiro e 8 de março. De 65 a 69 anos, 22 de fevereiro e 15 de março. Por fim, de 60 a 64 anos, 1º de março e 22 de março. Outras fases da vacinação ainda serão anunciadas.

Num movimento politicamente relevante, serão oferecidas 4 milhões para imunização de profissionais de saúde de outros estados, das 46 milhões de doses que o estado planeja ter à disposição em janeiro.

A linha de corte para a primeira leva de vacinação, 60 anos ou mais, decorre do fato de que 77% das 42,5 mil mortes por Covid-19 no estado foram nessa faixa etária. São 7,5 milhões dos 46 milhões de paulistas. Já profissionais de saúde e vulneráveis são 1,5 milhão de pessoas..

Há vários focos do plano. Um objetivo é checar cada uma das 4.700 Unidades Básicas de Saúde do estado, que são administradas pelos municípios. O estado de geladeiras para vacinas e a taxa de ocupação delas são a prioridade —a Coronavac precisa ser armazenada em temperaturas de 2 a 8 graus centígrados.

Haverá a ampliação do total de 5.200 locais de vacinação no estado para 10 mil, segundo Doria, com a utilização de farmácias credenciais, quartéis da Polícia Militar, escolas (aos fins de semana), terminais de ônibus e a adoção de sistema drive thru (de acordo com a disponibilidade de cada município).

Os horários de vacinação serão das 7h às 22h de segunda a sexta e das 7h às 17h nos fins de semana e feriado, tudo a cargo dos municípios.

O plano prevê 18 milhões de doses de vacinas e o uso de 54 mil profissionais de saúde. Haverá 25 postos de distribuição e 5.200 câmaras de refrigeração, além de 30 caminhões climatizados, ao custo de R$ 100 milhões.

Questionado a respeito de uma possível corrida de pessoas de outros estados para São Paulo em busca da vacina, Doria disse que todos os que estiverem no estado serão vacinados, sem exigência de comprovação de residência.

​Segundo Doria, São Paulo já tem em estoque todos os insumos –agulhas, seringas e EPIs (Equipamentos de Proteção Individual)– necessários para a plicação das doses. Caso o governo federal ofereça os insumos, o governador afirmou que o estado vai aceitar e utilizar ese material.

A capital, por exemplo, já se adiantou e comprou 10 milhões de seringas, para usar em suas 468 UBS. O plano estadual prevê a compra de 27 milhões de seringas e agulhas.

Há uma significativa inflação neste mercado, cortesia da demanda criada pelo novo coronavírus. Para ficar num exemplo comezinho, a caixa com cem luvas cirúrgicas era encontrada no mercado paulista por R$ 20 no começo do ano. Hoje custa quase quatro vezes mais.

O temor central do Palácio dos Bandeirantes é repetir o pesadelo logístico que foi a compra emergencial de respiradores chineses no começo da pandemia, com carregamentos parados em aeroportos de outros países, levando ao cancelamento de entregas.

O alto custo do plano fez com que os estados do Consud, consórcio que reúne os estados do Sudeste e do Sul, conversassem sobre a eventualidade de fazer compras conjuntas e pedissem auxílio ao Ministério da Saúde.

A pasta comandada pelo general Eduardo Pazuello não demonstrou interesse nas tratativas, segundo pessoas com acesso às conversas. São Paulo, que tem um orçamento de R$ 23,7 bilhões para o ano que vem na saúde, decidiu bancar sua parte, mas ainda há a possibilidade de cooperação.

O plano, finalizado durante as últimas três semanas, pretende deixar o estado pronto para distribuir duas doses da Coronavac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac.

Das 46 milhões de doses na mão do governo em janeiro, 6 milhões estão chegando prontas da China e as restantes serão formuladas a partir de insumos chineses no Butantan —algo que começa nesta segunda. Depois devem chegar mais 15 milhões de doses até março.

O imunizante já teve sua segurança e capacidade de produzir resposta imune atestadas nas fases 1 e 2 do seu ensaio clínico, ocorridas com 50 mil voluntários na China. A fase 3 está sendo finalizada no país asiático, no Brasil e em locais como Indonésia, Turquia e Bangladesh.

No caso brasileiro, o estudo com 13.500 voluntários coordenado pelo Butantan já atingiu o número mínimo de infectados para estipular sua eficácia: são separados entre os doentes os que receberam o imunizante e os que tiveram placebo aplicado.

Doria estima que o resultado do estudo brasileiro e o envio à Anvisa do pedido de registro ocorram até o dia 15. Como disse em entrevista à Folha na semana passada, o temor é de que o órgão haja politicamente.

O tucano é o principal governador de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e é virtual candidato ao Planalto em 2022. Ambos os líderes divergem no trato da pandemia, com Doria associando sua imagem à responsabilidade sanitária e Bolsonaro buscando minimizar a doença.

A nova frente de embate é a vacina. Bolsonaro chegou a comemorar quando um suicídio de voluntário levou a Anvisa a paralisar os testes da Coronavac sem aviso prévio, o que foi visto no governo paulista como um ato político.

Antes, fizera críticas à "vacina chinesa" e sua rede de apoiadores na internet insiste na tese de que "paulistas serão cobaias", o que não faz sentido se os testes forem positivos e houver aprovação do imunizante.

Como deverá requisitar também o registro definitivo da Coronavac, para a qual está sendo montada uma fábrica nova no Butantan, o governo paulista teme que a Anvisa, com direção bolsonarista, procure "pelo em ovo" para atrasar o cronograma de Doria.

A letargia do Ministério da Saúde, que prevê só começar a vacinar em março e não especificou com qual fármaco, preocupa estados —pelo menos oito já procuraram Doria para eventual compra da Coronavac, mas o conselho dos secretários da área se diz preocupado com a descentralização.

A oferta que Doria fará de vacinas a outros estados reforça a nacionalização da questão. O próprio governador afirmou, na entrevista da semana passada, que seu nome pode ser favorecido se a Coronavac for um sucesso —ressalvando que a busca pelo imunizante era uma questão de prioridade de saúde pública, não política.

O governo federal, apesar da atitude de Bolsonaro, investiu R$ 2 bilhões numa parceira para trazer a vacina da AstraZeneca/Universidade de Oxford, que está atrasada devido a problemas em sua fase de testes.

Pazuello admite comprar qualquer imunizante, mas favorece o britânico porque já tem um acordo assinado no qual ele é vendido a preço de custo (US$ 3,75 a dose, antes US$ 10,4 da Coronavac e até US$ 25 de outras).

Além do episódio da suspensão dos testes, feita sem conversa com o estado, um sinal preocupou as autoridades de saúde na semana passada. A Anvisa estimou dar seu OK aos insumos da Sinovac entre o fim de dezembro e o começo de janeiro, mas depois emitiu nota não se comprometendo com prazos.

fonte: Folha de SP

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