O Brasil enfrenta uma epidemia silenciosa e pouco noticiada que tem deixado marcas físicas e emocionais profundas em milhares de famílias: a crescente incidência de acidentes e mortes de trabalhadores em suas atividades laborais. Essa realidade é evidenciada pelas preocupantes estatísticas do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, uma iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Escritório da OIT no Brasil, no âmbito do projeto SmartLab de Trabalho Decente. Em uma sociedade que valoriza o progresso e a produtividade, os riscos associados às atividades laborais frequentemente são subestimados. É fundamental que se adote uma abordagem mais rigorosa para garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores, para que o desenvolvimento econômico não seja alcançado às custas da saúde e da vida daqueles que constroem o País.
2.538 MORTES
De acordo com o levantamento mais recente realizado em 2022, foram registrados no Brasil 612,9 mil acidentes de trabalho e 2.538 mortes em um único ano. Esses números representam a maior taxa de mortalidade em uma década, com uma média de sete óbitos para cada 100 mil vínculos empregatícios. Importante destacar que esses dados consideram apenas trabalhadores com carteira assinada, o que sugere que a real mortalidade laboral pode ser ainda maior.
COMÉRCIO
O setor de atendimento hospitalar continua a ser o mais afetado em termos absolutos, com 55,6 mil notificações de acidentes ao INSS em 2022. Outros setores com alta incidência incluem o comércio varejista de mercadorias em geral (18,5 mil), o transporte rodoviário de carga (13,5 mil), o abate de aves, suínos e pequenos animais (10 mil), e a construção de edifícios (10 mil).
DESAFIOS
Desde a implementação da Reforma Trabalhista em 2017, os desafios relacionados à segurança e saúde no trabalho têm se intensificado. Há uma clara correlação entre a precarização das relações de trabalho e o aumento dos acidentes laborais. A flexibilização das normas e a fragmentação das responsabilidades, impulsionadas pela Reforma e pela lei da terceirização, têm contribuído para o aumento dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais.
CONSEQUÊNCIAS
O impacto social dos acidentes de trabalho é vasto e devastador. Além das graves lesões físicas, muitos trabalhadores enfrentam incapacidades temporárias ou permanentes e, em casos mais graves, a morte. Esses incidentes não apenas comprometem a saúde física e mental dos trabalhadores, mas também deixam profundas marcas emocionais. As consequências se estendem às famílias dos trabalhadores, que não só lidam com a dor emocional, mas também com a perda de uma fonte de renda muitas vezes essencial.
Luiz Carlos Motta - Presidente