O Instituto Butantan receberá 15 milhões de doses da vacina chinesa, a CoronaVac, até o final deste ano. De acordo com Dimas Covas, diretor do Instituto, o material de imunização contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2), que causa a doença Covid-19, está sendo produzido na China e será enviado de forma fracionada a partir de outubro.
"Eu tenho enfatizado que a vacina estará disponível aqui no Butantan já em outubro. Em outubro receberemos 5 milhões de doses, em novembro mais 5 milhões de doses e em dezembro, mais 5 milhões de doses. Essas doses já estão sendo produzidas lá na China e, portanto, no final deste ano teremos 15 milhões de doses disponíveis", disse Dimas Covas em entrevista à GloboNews na manhã desta quarta-feira (12).
A liberação para uso da vacina na população, entretanto, dependerá do resultado dos testes clínicos e da aprovação da Anvisa. De acordo com Dimas Covas, após aprovação, a vacina será entregue ao Programa Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde, responsável pela distribuição e logística para o resto do país.
"O Butantan tem a obrigação de fazer esse estudo clínico, de aprovar esse estudo clínico perante a Anvisa e de ter a vacina. A partir dai, é o Programa Nacional de Imunização, que é um programa do Ministério da Saúde, que poderá usar essas vacinas. Nós estamos totalmente abertos. Nosso único comprador, entre aspas, é o Ministério da Saúde. Essas vacinas serão destinadas ao SUS, ao SUS de São Paulo e ao SUS do Brasil".
"Essas vacinas já estão previamente desenvolvidas, estão em processo de produção, chegarão aqui no Instituto Butantan e, portanto, essa perspectiva de uso fica na exclusiva dependência dos resultados do estudo clinico", explicou o diretor.
A perspectiva, segundo Dimas Covas, é a de que esteja disponível em janeiro de 2021, conforme anunciado pelo governo paulista no final de julho.
"Eu sou otimista, mas otimista com base nos dados, nos fatos. É uma perspectiva real. É uma perspectiva que tem uma enorme chance de acontecer e a partir de janeiro nós termos essa vacina disponível", disse Dimas Covas.
Ainda de acordo com Dimas Covas, além das doses já prontas, o Instituto receberá, a partir de outubro, material para poder dar início ao processo de produção da vacina localmente.
"Paralelo a isso, o Butantan também recebe a partir de outubro, a vacina a granel, e aí o Butantan começa um processo de produção dessa vacina aqui, que é a fase de formulação, de preparo e de envase, colocar essa vacina em frascos para depois ele ser distribuído. De forma que além desses 15 milhões que teremos em dezembro, no primeiro trimestre do ano que vem, poderemos ter mais 15 milhões de doses e até o primeiro semestre, chegarmos a 60 milhões de doses".
Estratégia de vacinação
Embora o Brasil tenha uma população estimada em 211 milhões, segundo dados do IBGE, o diretor acredita que o número de doses iniciais (60 milhões) seja suficiente para atender a necessidade de imunização no país, considerando que o governo adote uma estratégia de vacinação semelhante a da gripe.
"Esse número, 60 milhões, já suficiente para atender a população brasileira. Você tem que levar em consideração que as pessoas já estão sendo infectadas pelo vírus e, portanto, já estão sendo imunizadas naturalmente. Vai depender muito de qual estratégia vacinal sera adotada pelo programa nacional de imunização."
"Se for a mesma estratégia da gripe, essas 60 milhões são mais que suficientes para isso. Se for uma estratégia ampliada, aí poderemos chegar a 100 milhões, 120 milhões, 160 milhões. Depende dessa estratégia", completou.
Outras vacinas em desenvolvimento
Na terça-feira (11), o governo da Rússia aprovou a primeira vacina contra a doença e deu a ela o nome de Sputnik V. No entanto, sabe-se pouco sobre sua eficácia, o que fez o anúncio ser questionado por especialistas internacionais.
Já o presidente russo Vladimir Putin disse que a imunização passou em todas as verificações exigidas, e revelou que a própria filha foi vacinada. As autoridades russas têm planos de iniciar uma vacinação em massa em outubro no país. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), porém, a Sputnik não está na lista de seis vacinas que alcançaram a fase três dos testes clínicos.
No Brasil, o governo do Paraná anunciou que vai fechar um acordo para a fabricação da Sputnik V, mas a Anvisa informou que o laboratório russo não pediu registro no país.
Questionado sobre tal vacina, Dimas Covas afirmou que o Instituto Butantan chegou a ser procurado por representantes do laboratório russo, mas disse ter poucas informações para fazer uma análise crítica.
"Nós não temos informações sobre essa vacina, eles (do Butantan) foram procurados há algum tempo por um representante dessa vacina, e sem dados é muito difícil fazer uma análise crítica. Mais importante: vacinas são instrumentos fundamentais pra manutenção da saúde, então as pessoas que vão tomar a vacina têm que ter segurança de que essa vacina será eficaz e segura, e nesse momento não sabemos praticamente nada dela."
Resultados preliminares publicados nesta quarta-feira (12) na revista científica "Nature", uma das mais importantes do mundo, mostram que a vacina BNT162b1, candidatas contra a Covid-19 das farmacêuticas BioNTech e Pfizer, induziu uma resposta imune "robusta" e não teve efeitos colaterais graves em voluntários adultos.
Os níveis de anticorpos neutralizantes dos participantes foram de 1,9 a 4,6 vezes maiores do que os de pacientes em recuperação da Covid-19, segundo o estudo. Estes resultados, entretanto, ainda não mostram a eficácia da vacina. Isso será determinado em fase 3 (a última).
fonte: G1