Com a queda no número de casos de Covid-19, leitos clínicos e de UTI do SUS abertos temporariamente durante a pandemia estão sendo fechados. Diante disso, cresce um movimento de secretários da saúde reivindicando que parte dessas vagas seja incorporada em definitivo à rede pública para cobrir o déficit anterior.
Dos 14.843 leitos de UTI adultos e 249 pediátricos habilitados pelo Ministério da Saúde desde abril, resta pouco mais de um terço—5.233 de adultos e seis pediátricos, segundo a pasta.
O número restante, contudo, ainda seria um incremente signficiativo à rede pré-pandemia. Em janeiro de 2020, o SUS tinha um total de 22.841 leitos de UTI. Já o setor privado, que atende 22% da população, contava 22.586, segundo dados do Conselho Federal de Medicina.
Secretários estaduais e municipais tentam agora convencer o ministério a manter pelo menos 5.000 leitos de UTI nas regiões onde sempre houve falta desse serviço, com grandes desigualdades na distribuição, segundo fontes ouvidas pela reportagem e familiarizadas com as conversas. No Amapá, por exemplo, a proporção de leitos de UTI do SUS por 10 mil habitantes é de 0,5, enquanto em São Paulo, de 1,9.
O Conass (Conselho Nacional de Secretários da Saúde) diz que só se manifestará sobre o assunto quando concluir a análise oficial, o que deve acontecer nas próximas semanas.
Levantamento do CFM mostrou que 14 estados brasileiros, a maioria no Norte e no Nordeste, têm o total de leitos de UTI do SUS abaixo do patamar ideal (de 1 a 3 para cada 10 mil habitantes, segundo a Amib – Associação de Medicina Intensiva Brasileira).
Estados cujas redes de saúde entraram em colapso, como Amazonas e o Pará, têm hoje menos da metade de leitos hospitalares no SUS que tinham no fim de junho, auge da crise sanitária.
O Amazonas, que chegou a ter 1.209 leitos exclusivos para pacientes com Covid-19, contava no início do mês com cerca de 480, 60% a menos. O Pará tinha 703 leitos de UTI e 1.519 leitos clínicos para Covid-19. No final de setembro, eram 359 leitos de UTI e 926 leitos clínicos (49% e 39% menos, respectivamente).
Além de a pandemia ainda não ter terminado e de haver risco de um repique de casos —na Europa, embora a letalidade tenha caído, hospitais estão lotando —, começa a chegar ao SUS a demanda de pacientes de outras doenças, que não procuraram assistência no período de distanciamento social.
Segundo dados preliminares das secretarias estaduais de saúde, nem 10% das cerca de 500 mil cirurgias eletivas que são feitas anualmente na rede pública foram realizadas neste ano. A previsão é que em 2021 haja uma grande sobrecarga do sistema, o que, por si só, já justificaria manter parte dos leitos emergenciais.
“Estimamos que essa demanda reprimida deva chegar a 1 milhão [de cirurgias] até o final do ano. Será uma demanda altíssima de procedimentos ambulatoriais e hospitalares não realizados”, afirmou Mauro Junqueira, secretário-executivo do Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde), em audiência no Congresso no início do mês.
fonte: folha de sp