A jornada 6 x 1 vai além de uma simples escala de trabalho; ela reflete um sistema que reforça desigualdades, agrava injustiças e prejudica a saúde física, mental e social de milhões de brasileiros. Trabalhar seis dias consecutivos para descansar apenas um não é apenas uma afronta ao trabalhador, mas também uma agressão silenciosa às famílias, que perdem o convívio diário, às crianças, que crescem sem a presença dos pais, e à própria sociedade, que se vê refém de um modelo que normaliza o adoecimento e a exaustão.
DIREITO FUNDAMENTAL
A Constituição Federal, no artigo 196, estabelece que a saúde é um direito fundamental, a ser garantido por meio de políticas públicas, sociais e econômicas, com foco nas causas que possam gerar risco de adoecimento e na promoção de um ambiente saudável. A atuação sobre os fatores que geram adoecimento, como as condições de trabalho, é essencial para assegurar esse direito, conforme determinado pela Carta Magna.
IMPACTOS
Os impactos da jornada 6 x 1 vão além da saúde individual, refletindo-se como um problema de saúde pública. A estreita relação entre essa jornada e os resquícios de uma sociedade escravocrata é inegável. A exploração do trabalho negro foi o alicerce da economia brasileira, sustentada por um sistema laboral desigual, injusto e causador de doenças. Diversos estudos demonstram que a população negra é a mais afetada pela jornada 6 x 1, predominando em postos de trabalho mal remunerados e exaustivos. Esse modelo perpetua uma herança racista que trata o corpo negro como força de trabalho descartável, negando-lhe o direito ao descanso, ao lazer e ao cuidado pessoal.
Combater a jornada 6 x 1 é, portanto, uma luta contra o racismo estrutural e um compromisso com a dignidade humana.
Estudos apontam que jornadas prolongadas têm efeitos negativos na saúde dos trabalhadores, incluindo estresse, fadiga, transtornos mentais e aumento do risco de doenças cardiovasculares. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) indicam que questões relacionadas ao trabalho, como depressão e problemas osteomusculares, afetam uma parcela significativa da população trabalhadora brasileira.
REVISAR MODELOS
Pesquisas internacionais, como a European Working Conditions Survey (EWCS), mostram que jornadas mais curtas estão associadas a uma melhor adaptação à vida familiar e social, além de impactarem menos negativamente a saúde dos trabalhadores. Essas evidências reforçam a necessidade de revisar os modelos de jornada de trabalho no Brasil, visando equilibrar produtividade e qualidade de vida.
Assim, o fim da jornada 6 x 1 deve ser encarado como parte de um esforço maior para reequilibrar as relações de trabalho, assegurar dignidade aos trabalhadores e construir uma sociedade que valorize o bem-estar coletivo. Trabalhar é necessário, mas viver plenamente é um direito inalienável. Esta é a conquista que o Brasil precisa alcançar agora.
Luiz Carlos Motta - Presidente